Disse para si mesmo:
- Não fiz nada por Melissa enquanto ainda era tempo. Agora é tarde.
Sentou à maquina de escrever e começou a apertar furiosamente algumas teclas. Na folha, agora marcada por alguns tipos, era possível ler "David". Fitou cuidadosamente a folha e rasgou-a em diversos pedaços.
Abriu a garrafa de whiskie e tomou diretamente do gargalo. Seu coração ainda estava acelerado pelos acontecimentos anteriores e precisava de algo para se acalmar.
(...)
David era um garoto de 6 anos muito esperto, sagaz e extremamente questionador. Cabelos louros e olhos claros, transmitia toda a inocência e calma, que não possuía. Sua mãe, Marta, costumava brincar que David 'é melhor que academia". Com certa frequência atribuía sua beleza e saúde ao tempo em que passava com o filho, que amava incondicionalmente mas que em nada se parecia com o pai, moreno, de cabelos encaracolados. "Bom, deve ser um dos mistérios de Deus", Marta pensava.
(...)
Antônio pega o celular e retorna a ligação.
- Alô? - diz uma voz feminina do outro lado do aparelho.
- Este número me ligou há pouco, estou retornando.
- Antônio? É você? Que bom que ainda está com o mesmo número, precisava falar contigo...
- Marta? Aconteceu alguma coisa?
- Você precisa me ajudar! Sei que faz tempo que não conversamos, já se passaram 7 anos mas não consigo pensar em ninguém mais senão você. Sempre pude contar muito contigo quando precisei. Espero que possa me ouvir, ao menos.
- Claro que posso! Prefere conversar por aqui ou marcar em algum lugar?
- Vamos naquele café que íamos sempre no centro. Pode ser?
- Daqui a uma hora estarei lá.
- Obrigada, mais uma vez. Beijos!
E desligou.
Sentou-se na cama, com as mãos sobre a cabeça perguntando o que poderia ter acontecido com Marta.
Tomou banho, saiu de casa. Ao chegar na rua, avistou ao longe, encostado num poste, um sujeito parecido com o sujeito que batia à porta de Melissa.
Sentiu a perna travar quando o sujeito caminhou em sua direção.