8.12.08

Aspirações

Ao fim de um ano, ergui minha espada ainda como aluno, e fui condecorado como aspirante-a-oficial. Mas houve um equívoco, pois o curso era para formação de oficiais. Na hora da divisão das patentes, intervaladas por uma partida de poker visto que a peleja das divisões era muito sufocante, ganhou o coronel que bateu na mesa e disse: eu tenho dois pares. Assim foi definido que aspirante-a-oficial não é tenente, tampouco suboficial. Está ali na zona de penumbra, quase em coma. Vivo ou morto? Na verdade, morto-vivo, mas pra estar vivo, precisa provar. Da mesma maneira que o aspirante-a-profissional, que procura mostrar o tempo todo que não está em coma, mas às vezes queria estar. Este, ao ser aprovado na banca, a última zona do suplício entre as deliberações intermináveis sobre laranja ou amarelo e o sorriso no rosto de professores, calejados com as demonstrações de insegurança ou prepotência dos que têm 40 minutos pra resumir 4 meses. A aprovação corresponde à sensação de um condenado a execução nos moldes chineses que escapa com vida, quando um motorista embriagado atropela os soldados armados, prontos para atirar. O condenado, após momento da euforia por estar vivo, pensa: "E agora, o que vou fazer?".
E daí o aspirante volta novamente pro coma. Desta vez, induzido pela sociedade.

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