É de conhecimento geral, situações de trabalho onde somos "obrigados" a aceitar certas críticas e comentários destinados ao nosso lado profissional, com o intuito de fazer-nos amadurecer, mas que acabam atingindo outras áreas senão o lado profissional.
- Senhorita Cleide, o seu trabalho é insatisfatório para os padrões de nossa digníssima empresa. Dou-lhe um prazo para rever seus conceitos e melhorar seu lado profissional, caso contrário, não precisamos mais dos seus serviços.
Bela crítica, totalmente formal e direcionada ao lado profissional, não parece?
- Eu sou uma inútil! Hoje o chefe disse que o que eu faço não presta! E ainda me deu um prazo pra melhorar senão vou ser demitida! (...)
Será apenas o lado profissional que foi atingido? Por melhor que seja a construção de uma crítica, a pessoa funciona em um inteiro. A separação dos ditos lados "profissional" e "pessoal" é tênue, e muitas vezes não consegue desvencilhar-se do ego, que é um só.
Até que em um certo dia, Cleide resolve mandar apenas seu lado profissional trabalhar, enquanto seu lado pessoal ficou em casa vendo "Mais Você". O lado profissional chega formalmente ao escritório, num sóbrio conjunto preto
Deu bom dia a alguns de seus colegas e dirigiu-se para a sua mesa. Organizou alguns papéis, anotou recados, executou as tarefas que lhe foram solicitadas e assim continuou, profissionalmente. Enquanto seu lado pessoal em casa se divertiu muito falando com as amigas, vendo televisão e preparando uma nova receita, vista no programa matinal.
O chefe se depara com aquela figura sóbria, sem emoções, que executa tarefas sem demonstrar nenhuma emoção, mas faz tudo exatamente conforme prescrito, sem erros, sem divergências de opinião, sem graça.
"Parece que minha crítica deu certo. Ela se enquadrou aos nosso padrões, está garantida em sua vaga. Mas bem que poderia sorrir um pouco."
É complicado delimitar até onde as coisas podem ser tratadas como profissional e pessoal, sendo que a pessoa trabalha para suprir bens pessoais mas adquirindo experiência profissional para isso. Até mesmo os "workaholics" sentem satisfação em serem reconhecidos como pessoas competentes de um trabalho oriundo profissionalmente, e é o ego único o contemplado.
Existe um pequeno detalhe de que algumas empresas se esquecem. Todos querem profissionalismo, trabalhos bem feitos, mas somos consumidores daquilo que produzimos e produzimos para pessoas iguais a nós. A realização deve ser impessoal, não buscar lados e sempre atingir padrões de qualidade compatíveis com seres humanos e para seres humanos. Ou será que alguém gosta de falar com "robôs" (com personalidades anuladas das 07:00 às 18:00) em um tele-atendimento e, por descuido do atendente, ouvir o mesmo reclamando do trabalho "difícil" e severamente monitorado, quando este de colocar o "head phone" no "mudo"?
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